quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Sobre o Legal e o Legítimo...
A greve é um direito constitucionalmente assegurado ao trabalhador. É legal, portanto. Nos últimos meses a sociedade fortalezense vem vivenciando uma situação bastante desconfortável em seu dia-a-dia, em decorrência do exercício desse direito por parte de motoristas e cobradores de ônibus.
Somos uma escola com alunos oriundos de 81 bairros de Fortaleza e dois municípios da Região metropolitana. Grande parte de nossos alunos, na faixa de 14 a 17 anos, sai de casa antes mesmo de o sol nascer completamente para que possa chegar pontualmente à escola, às 7:10 da manhã. Esses jovens só retornarão às suas residências por volta das 18:30, 19 horas... São mais de 12 horas longe de casa também em busca de um direito sagrado, assegurado a todas as crianças e jovens de nosso país: a educação.
No mês de junho, em decorrência de paralisações-surpresa e outras programadas, esses alunos perderam cerca de 25% das aulas diariamente, seja por residirem longe da escola, seja por seus pais temerem por sua segurança por conta de confusões nos terminais ou no trajeto dos coletivos, quando muitos foram orientados a descer e concluir o trajeto à pé ou mesmo alguns conflitos envolvendo passageiros, trabalhadores e representantes dos sindicatos.
Os professores, que não estão em greve e estiveram presentes à escola, precisarão repor as aulas não dadas por necessidade de os alunos serem liberados mais cedo para não correrem o risco de ficar sem ter como voltar às suas residências.
Os trabalhadores reivindicam um percentual de reajuste, que os empresários não concordam em conceder. Os trabalhadores têm direito a salários dignos. A profissão de condutor e cobrador de ônibus certamente é de elevada responsabilidade e stress diário, mas será que não há alternativas a este impasse? Será que o direito de motoristas e cobradores é mais importante que o de estudantes ou vendedores, faxineiros, domésticos, enfermeiros, professores, servidores públicos, que sem o transporte coletivo correm o risco inclusive de não terem seus salários assegurados?
Não seria porventura mais eficaz a pressão dos trabalhadores fora dos horários de pico, de modo a não prejudicar o trabalho e o descanso de milhares de usuários de transporte coletivo, ou circular com o número máximo de passageiros permitidos (que a gente sabe não ser respeitado no dia-a-dia), reservando as paralisações para horários que não causassem tanto transtorno? Ou não seria também viável aos empresários flexibilizar um pouco mais a sua proposta de reajuste, já que a situação atual também não lhes é favorável?
Em nenhuma situação todos os lados ficarão satisfeitos. Talvez esteja na hora de começarmos a praticar o ganha-ganha, onde todos cedem um pouco em benefício do bem geral.
Aos nossos alunos e pais, fica o compromisso da escola de repor as aulas não dadas em decorrência das liberações antecipadas e o pedido para que aproveitem o tempo em estudos domiciliares. Aos trabalhadores, nosso apelo para o bom senso e a lembrança de quem são os mais prejudicados com essa situação. Aos empresários, o questionamento sobre o que fariam se precisassem viver com o salário que desejam pagar a motoristas e cobradores, seus funcionários, aqueles que precisam do emprego, mas também, garantem seu lucro.
Aila Magalhães - Diretora da EEEP Juarez Távora