domingo, 18 de julho de 2010
Mudança requer tempo, trabalho, disciplina e humildade!
No ano de 2008, o Governo do Estado do Ceará assumiu o desafio de oferecer aos jovens das classes menos favorecidas de nosso Estado, uma educação diferenciada, onde o aspecto qualitativo superasse o paradigma da quantidade. Não bastava apenas escolarizar 95% da população-alvo, mas proporcionar à mesma, uma educação que primasse pela qualidade, tendo a aquisição do conhecimento e a profissionalização como fator diferencial. Para a viabilização desse projeto, algumas escolas-piloto foram inauguradas e em 2009 um longo e criterioso processo seletivo escolheu os gestores de 51 novas escolas de educação profissional.
A esses gestores foi dada a prerrogativa de administrar a escola de acordo com o projeto fundamentado na TESE – Tecnologia empresarial sócio-educacional, com autonomia para escolher seus colaboradores, sem qualquer interferência do Estado, a não ser o compromisso com o projeto e as qualificações necessárias ao exercício do cargo, notadamente o de professor, elemento-chave para o sucesso do projeto.
A esses professores, foi oferecido salário idêntico ao dos professores das demais escolas, com a exigência de dedicação integral, que os ocupa por dez horas diárias, aí incluídas duas horas de intervalo para lanche/almoço. Os alunos das escolas profissionais são os mesmos das demais escolas, ou seja, garotos e garotas oriundos da rede pública de ensino, de famílias com renda média de um e meio salários mínimos, que chegam ao Ensino Médio com as deficiências de aprendizagem já tão conhecidas por professores, trazendo por vezes para o ambiente escolar, histórias de vida pontilhadas aqui e ali por desajustes familiares, violência e outros males presentes em uma sociedade injusta, desigual.
O primeiro passo é mostrar a esses garotos e garotas que as coisas podem ser diferentes de até então. Para tanto, novas disciplinas foram inseridas no currículo escolar, como Formação Cidadã e Temáticas Práticas e Vivências – TPV, que discutem temas da atualidade e a adoção de valores coerentes com a missão da escola. Em relação às deficiências de aprendizagem, são realizadas avaliações diagnósticas com o objetivo de detectar as áreas críticas de cada educando, e durante o primeiro semestre são acrescidas aulas nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, que se constituem no programa de nivelamento da aprendizagem.
Visando o fortalecimento dos laços com a família e o atendimento personalizado, foi implantado o projeto Diretor de Turma, onde cada turma fica sob a responsabilidade de um professor, que a acompanhará até o final do terceiro ano do Ensino Médio.
As escolas oferecem material didático, fardamento, três refeições diárias e um diversificado apoio pedagógico através de laboratórios de informática educativa, sala de leitura, sala de vídeo, biblioteca, laboratório de ciências e laboratórios específicos para os cursos técnicos. Além disso, diversos projetos culturais como grupos de dança, coral, teatro, literatura e esportes são desenvolvidos no ambiente escolar. Os alunos são ainda estimulados a participar de eventos de caráter regional e nacional como feiras culturais e olimpíadas escolares.
Todo esse aparato educacional é realizado pelo contingente de 12 professores, 1 diretor, 2 coordenadores e 5 professores de apoio (multimeios, laboratório de informática e laboratório de ciências)! Convivendo com adolescentes cerca de dez horas por dia, esses profissionais têm uma grande demanda por orientação, aconselhamento e resolução de conflitos, naturais em ambientes com jovens oriundos de mais de 80 bairros da grande Fortaleza.
Engana-se quem, descrente da viabilidade do projeto e acreditando-se capaz de oferecer melhores alternativas, segue soltando aqui e ali a maledicência que caracteriza aquelas pessoas tomadas pelo inconformismo gratuito, pela soberba, falta de ética e oportunismo.
As escolas profissionais vieram para ficar. A melhor prova disso são os resultados que vêm sendo conquistados, alavancados não por notas atribuídas gratuitamente por professores ansiosos por férias um pouco mais longas, mas pelo exercício responsável do magistério, que somente após esgotadas as possibilidades de aprendizagem do aluno, reconhecem a inviabilidade de uma promoção movida apenas pelo desejo de índices positivos; alavancados pela mudança de atitude de milhares de jovens, que ao passarem a acreditar na possibilidade de construção de um futuro melhor para si e suas famílias através do estudo, da responsabilidade e da disciplina, fatalmente serão levados à merecida conquista do próprio espaço no mundo do trabalho e na sociedade.
O compromisso dos que fazem as escolas profissionais não está tutelado por urgências eleitoreiras ou interesses de caráter pessoal. Como em qualquer projeto, os resultados positivos são desejáveis e necessários, mas para alcançá-los temos objetivos definidos, metas estabelecidas e ações a executar. Mudanças qualitativas demandam tempo, dedicação, persistência e, acima de tudo, confiança naquilo que se escolheu fazer.
Para aquele que não acredita, que é da torcida contrária, que é incapaz de perceber a diferença entre aventura e a perspectiva, que defende mudanças enquanto permanece inflexível, fica a sugestão: Pede pra sair! Não é você que não serve para essa escola, mas essa escola que não serve para você!
Aila Magalhães
Diretora da EEEP Juarez Távora