domingo, 26 de setembro de 2010
à toa num domingo à tarde...
rastros
são pequenas as marcas de meus passos:
um olhar de viés, um sorriso nervoso, um beijo roubado
um cheiro de fruta pairando no ar... (tangerinas?)
na gaveta, uma foto amarelada da primeira comunhão,
um caderninho de poemas infantis:
a maldita e previsível rima (amor e dor).
Sobre a estante,
tratados socialistas valorizam citações de cartões postais
com uma manjada foto de Che (em Cuba).
Sob a cama,
caixas de sapato ocultam meu passado.
Três metros cúbicos de lembranças subjugadas à fita crepe.
Não há qualquer vestígio de antigos sonhos:
desisti de parar de fumar
não tenho carta de habilitação (eu ando de moto, ora bolas!)
vendi meu sítio, perdi o barco para Parságada (é ilha, não é?)
A tantos quilômetros, que nem sei,
esconde-se de mim a pedra filosofal
cansada de caminhar, acredito piamente que jamais funcionaria
permitindo versos que me falem do futuro do pretérito.
Pouco importa que as horas se arrastam feito a brisa das tardes de Teresina
mas não seria mau uma grande ventania
e uma longa noite que apagasse a sombra de qualquer dúvida.
Continuo calçando trinta e seis
e sinto areia por entre os dedos.